domingo, 5 de setembro de 2010

Português em questão



Eu gosto de falar português, o português brasileiro onde as letras são saboreadas, passeiam pela língua , giram no palato, escorregam pelos dentes para enfim formarem a palavra quase musical, de tanta sonoridade. A predominância dos sons vocálicos retomando nossa ancestralidade tribal a cada sílaba pronunciada é fascinante! Tê-la como língua materna, para mim, é ser parte de um “grande grupo pequeno”; grande por ser Brasil, esse continente “ América do Leste”, e pequeno por ser tão homogêneo linguisticamente. Escolhi essa língua como instrumento de trabalho que realizo ensinando-a a quem deseja conhecê-la e aprendê-la. É muito bom ver aquele estrangeiro que chega na segunda-feira dizendo “Hi!” e vai na sexta-feira dizendo “ Bom fim-de-semana!”
Por isso, venho aqui dizer que é uma lástima que muito dos nossos não saibam usá-la, por falta de conhecimento ou oportunidade de conhecê-la. Não entendo como os meios de comunicação e até mesmo a política se aproveitam dessa ignorância para angariar audiência e votos, respectivamente. Rir é sempre bom, e de uma certa forma os tropeços de Lady Kate ( personagem do Zorra Total) fazem involuntariamente com que os telespectadores pensem em qual seria a forma adequada enquanto lhe assistem, mas ainda assim é preocupante que as pessoas se interessem tanto por esse tipo de humor. Outro exemplo batido é o nosso presidente, Lula da Silva, que usa e abusa da falta de concordância, entre outros, para se promover, faz a retórica conveniente a ele disfarçada nas metáforas mais “chinfrins” . Acha que a sua maneira de falar se acerca da maneira do povo, plantando na cabeça de quem precisa se aprimorar, o pensamento de que não é necessário utilizar uma língua neutra ou formal para se ter um cargo tão importante.
Não sou puritana, nem normativa, não penso que os brasileiros devam falar um português lusitano que não adquiriram naturalmente, mas é preciso saber que assim como não se vai a praia de smoking, também não se pode falar “ não queira que em quatro anos eu conserto o que vocês destruiu em quatro século” (Lula, ver em http://www.youtube.com/watch?v=Zvcmot63fno) em um debate político transmitido em rede nacional. O falante tem que ter consciência lingüística para saber manejar a língua de acordo com a situação e ambiente, e isso requer conhecimento de algumas regras. Não me interessa se o ex-presidente dos EUA, George Bush, também não saiba falar bem o seu idioma, apesar de ter tido condições para tal, ou se Lula fala assim por não tido, esse é outro tipo de discussão. O que eu percebo como estudiosa da língua portuguesa é que os brasileiros, de maneira geral, têm muita dificuldade quando o assunto é explicar ou narrar um fato e consequentemente entender de primeira uma explicação ou solicitação. Você entra num bar e pede: “ olá, um suco de laranja, por favor! na maioria dos casos o atendente vai repetir a pergunta: “um suco de laranja?” Será insegurança? Será falta de atenção? Por que essa necessidade de se certificar sempre das coisas repetindo o que se fala? Já observou que os deficientes visuais e auditivos não têm esse tipo de vício no processo da comunicação? Sociedades desenvolvidas também não. E me pergunto: o subdesenvolvimento também atrofia os sentidos?

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