sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pelo Sabor do Gesto, disco, shows e encontros.


Pelo Sabor do Gesto (PSDG) é o nome do novo disco de Zélia Duncan, cantora que transpira música no sentido real da coisa, vê-la e ouvi-la é perceber que a música tem alma, a alma de quem a compôs, sentiu, imortalizou e entregou aos nossos ouvidos.
Conheço bem todos os seus discos, Zélia surgiu para mim no finzinho da minha adolescência e o Intimidade tem uma participação íntima e especial na minha vida.
Voltando ao PSDG, este consolida o crescimento musical dela e se antes disse transpirar, agora digo transbordar. Nesse disco, Zélia transborda musicalidade e tive a oportunidade de ver o show duas noites seguidas, coisa que nunca tinha feito antes, mas como havia uma expectativa muito grande, resolvi ir até o último acorde.
Para a minha felicidade o disco foi tocado na íntegra, a banda com quatro músicos se multiplicou por quarenta. A cada faixa visitei vários lugares, e em determinados momentos, como o da música que intitula o disco, minha poltrona parecia querer sair do lugar tamanho o efeito que a interpretação, naquele fundo azul, me causou.
A música Pelo Sabor do Gesto, questiona as formas de amar e preza o amor na sua forma pura e original. É uma versão da francesa As-tu déjà aimé?(Alex Beaupain) cantada no filme Les Chansos d`amour (2007) que foi um dos coadjuvantes desse projeto, pois dele saíram duas versões, além da que citei tem também Boas Razões, filha de De Bonnes Raisons (Alex Beaupain). As duas versões mantiveram os temas originais adicionados a doses significantes de delicadeza na sua totalidade.
“Todos os Verbos” é interpretada (não toda) em linguagem gestual, e é um jogo de conceitos entre verbos e adjetivos que no refrão se resumem ao verbo Amar, como se este fosse o recipiente e os outros verbos( errar, sorrir, trair, etc) fossem ingredientes do maravilhoso manjar da vida : O Amor.
E o amor segue como sujeito de “ Sinto Encanto”, parceria com Moska, mas agora de maneira misteriosa, silenciosa e desconhecida. Uma melodia leve tocada ao violão e ao embalo dos sorrisos e olhares de Zélia lançados sobre a platéia atenta que parecia sentir de fato, o Encanto.
As músicas do PSDG são incrivelmente lindas!! Letras bem elaboradas totalmente harmonizadas às melodias, um disco romântico, não clichê , coisa difícil nos dias de hoje e nos de ontem também. Quem bebe dele aprimora os ouvidos, experimenta novas sensações ao tempo em que aprecia os malabarismos da língua portuguesa escritos por quem realmente sabe compor e tem intimidade com ela. “ Se um dia, me quiseres”, “ “Nem tudo”, “Se eu fosse”, “Aberto” e “Tudo sobre você”, são expoentes disso.
Falando em “Intimidade”, essa música foi incluída no show. Uma surpresa que reforçou o clima intimista daquelas benditas horas!! Fomos presenteados com um arranjo mais forte, interpretação arrojada, um suspiro antes da última frase: “ não dá pra fingir”e se não me engano, no meio da música, com uma “banana” inesperada ,seguida do “confessa, seu tombo é aqui!”.
Foram incluídas também “Alma”, “Catedral”, “Não vá ainda”(no bis) e “Felicidade”, de Luiz Tatit. Vale ressaltar, a beleza que foi essa última, transportando o público do teatro ao circo, num misto de humor com dúvida e um pouco de tragédia, a canção faz uma reflexão e brinca com o sentimento de felicidade, nos fazendo pensar e sorrir ao mesmo tempo, tamanha a criatividade dos versos. Neles é possível retomar a temática de “Balada do Louco”( Rita Lee e Arnaldo Baptista -1986): a felicidade sem motivos aparentes, o rir à toa, capacidade geralmente atribuída aos insanos. A diferença é que Tatit se mostra muito consciente na sua posição de “feliz” e desiste ao final de procurar a causa, decidindo “ ser feliz pra sempre”. Zélia nos apresentou um lindo cantar-falar-atuar, lado que eu ainda não tinha visto ao vivo e a cores.
Ahh!! Aquelas cores do cenário mergulhadas naquele azul inebriante pareciam um sonho daqueles que não se quer acordar!!
Esses foram, sem dúvida, os melhores shows da minha vida!! E posso dizer que em meio a uma fase tão difícil, em que já estava conformada com a idéia de que o futuro me daria , para sempre, momentos “quase felizes”, eis que surge a música. Veio e me resgatou de um buraco, mostrando que por pior que sejam os tombos, tem sempre algo maior que te faz levantar e até sorrir, e muito!!.
Claro que para isso, além da música, contei com um elenco de peso: Zélia Duncan (artista, pessoa e obra), Natival, Elissama, Leonardo e Fabiano. Essas pessoas protagonizaram o meu recomeço, sem nem se darem conta disso, pelo simples sabor dos encontros, risadas e emoções compartilhadas. Obrigada por botarem um sorriso na minha cara Pelo Sabor do Gesto.

Rosângela Santiago, 04/12/2009.

Um comentário:

  1. CAra Rosangela, nao sabia q vc escrevia tao bem, adorei o seu relato, me emocionei com suas palavras e revivi estes doces momentos das apresentações deste show. Fico mto feliz de vc compartilhar isto. Obrigado pelo carinho. Um beijo!

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